A disputa pela soberania simbólica é … uma tarefa revolucionária. É saber que a luta política passa também pela disputa de linguagem. E que não há transformação social duradoura sem transformação simbólica. O povo precisa recuperar o direito de contar sua história, nomear sua dor, expressar sua fé, narrar sua utopia.
Maio/15. Rosenil Barros Órfão
Vivemos uma época em que as guerras não se travam apenas com tanques ou decretos. A principal batalha do nosso tempo é travada no território dos símbolos. Quem domina a linguagem, domina o imaginário. Quem controla os algoritmos, redesenha o desejo. Quem impõe os signos, organiza o mundo à sua imagem.
É nesse contexto que propomos um conceito que nos parece urgente: soberania simbólica.
Soberania simbólica é o direito dos povos de nomear o mundo com suas próprias palavras. É a capacidade coletiva de produzir sentidos, conceitos, visões de futuro e narrativas que não estejam subordinadas à lógica do lucro, do medo ou do silenciamento.
É um gesto de insurgência contra o epistemicídio, contra a publicidade que dita valores, contra os monopólios digitais que nos vendem distração como se fosse liberdade. É retomar aquilo que Paulo Freire já nos ensinava: quem não pode dizer sua palavra, não pode ser sujeito da sua história.
Hoje, os símbolos estão sequestrados. Palavras como “família”, “progresso”, “ordem” e “empreendedorismo” foram capturadas e ressignificadas por um projeto de sociedade que nos quer isolados, exaustos e consumindo sem parar. As redes sociais, em vez de praças públicas, tornaram-se shopping centers do afeto. E o algoritmo, esse novo oráculo, empurra nossos olhos para aquilo que rende lucro — não para o que liberta.
A disputa pela soberania simbólica é, portanto, uma tarefa revolucionária. É saber que a luta política passa também pela disputa de linguagem. E que não há transformação social duradoura sem transformação simbólica. O povo precisa recuperar o direito de contar sua história, nomear sua dor, expressar sua fé, narrar sua utopia.
Por isso, acreditamos que a comunicação popular não pode ser apenas resistência: ela precisa ser construção. E construção com técnica, com ciência, com alma. Estamos falando de reocupar o território digital, de formar novas gerações de comunicadores conscientes, de repolitizar a linguagem.
Em tempos em que a visibilidade se confunde com verdade, e o tráfego com legitimidade, é fundamental que nossos coletivos, nossos mandatos, nossas escolas e nossas comunidades aprendam a operar não só com emoção, mas com estratégia. A soberania simbólica começa quando compreendemos que o sentido é um campo de disputa — e que estar na rede, sem direção, é o mesmo que não estar.
Este é o momento de levantar nossas bandeiras, mas também nossos vocabulários. De resgatar nossas palavras, nossos mitos, nossos nomes. Porque quando o povo perde o controle dos seus símbolos, perde também o chão da sua identidade.
E nós estamos aqui para reerguê-los.
Tem luta!
Sigamos!
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